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Há 175 anos, nascia o patrono Padre Dehon, guia de valores e vocações

Publicado em: 13/03/2018 por


P. Léon Dehon é o fundador da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus. Nasceu em 14 de março de 1843, na França.

Dia 14 de março a Dehoniana faz memória do seu patrono, pe. Dehon. Ele soube entender a força da educação como o meio privilegiado da “reparação” entendida em seu sentido mais amplo. Dele herdamos um conjunto de valores que baliza nossa missão. Aproveitamos a ocasião para partilhar a reflexão do pe. Nestor, da ESIC Curitiba.

VALORES DEHONIANOS

Por Pe. Nestor Adolfo Eckart – Secretário Geral, ESIC Curitiba

O termo “valor” deriva do verbo latino “valeo, ere”, que significa “estar bem”, “estar com saúde”, “ser forte”. Valores podem ser vistos como balizas, referências seguras colocadas no deserto e que nos orientam no caminho. Alguém que quisesse seguir por nosso caminho pode orientar-se pelas balizas, pontos firmes colocados por onde passamos. Os valores são como setas orientadoras do caminho. Os alemães falam de “Wegweiser”. Indicador de caminho. As balizas, que indicam o caminho, são firmemente postadas. Mesmo que venham ventos e intempéries, o caminho continua sinalizado, as balizas não são afetadas por adversidades e contratempos. É caminho seguro.

Valores dehonianos: são elementos derivados da experiência de vida, das reflexões, dos estudos, do contato com as pessoas (jovens e operários), da espiritualidade de Padre João Leão Dehon (*La Capelle, 14/03/1843; +Bruxelas, 12/08/1925). P. Dehon é o fundador da Congregação dos Padres do Sagrado Coração. Os padres e religiosos são conhecidos hoje como “dehonianos”. A Congregação foi fundada no pátio do Colégio São João, em São Quintino, na França, em 1878, onde P. Dehon trabalhava com os jovens e os orientava.

P. Dehon deixou três valores básicos para quem quisesse seguir o caminho sugerido e vivido por ele. São valores próprios do seu carisma (conjunto de qualidades pessoais): cordialidade, disponibilidade e solidariedade. São balizas orientadoras do “jeito dehoniano de educar”. São valores geradores de outros valores, orientadores no modo de proceder, de agir, de relacionar-se com as pessoas.

1. Cordialidade

Cordialidade, termo derivado de “cor, cordis”. Entende-se por este termo a parte que fica no centro de qualquer coisa ou pessoa. Algo essencial, central. Âmago, imo. Na cultura ocidental, usa-se esta palavra ou expressão para significar o “coração”. No corpo humano, o coração é visto como órgão central da vitalidade. É o órgão vital de organismos vivos. Há culturas em que o órgão vital e central seria o fígado. Ainda a conotação de “coração” é afetividade, ternura, carinho, afabilidade, compreensão, apoio, perdão.

Para Padre Dehon a essência de Deus, o centro absoluto de Deus é o amor. E, para Dehon, o amor se expressa, se manifesta, se exterioriza no símbolo do coração. O coração de Deus é reino de amor. Dehon usa a expressão latina “adveniat regnum tuum”, o que significa “que venha o teu reino”. Que o reino centrado no coração ou o centro do coração (amor absoluto) venha a nós. Na figura do coração ele centraliza e simboliza todo o reino de Deus.

Inspirados nesta figura e nesta verdade, os dehonianos são convidados a agir sempre e com todos cordialmente, com cordialidade. Isto é, todos são estimulados a ver e a tratar todas as pessoas, sempre e em qualquer ambiente, com cordialidade. Uma cordialidade equilibrada e inteligente. Nas atividades educacionais, inspirados pelas intuições de Padre Dehon, seremos sempre cordiais com todos. A cordialidade estará em nossas ações. Estaremos atentos em transmitir a essência da vida em nossas ações de educadores. Será uma baliza firme e segura em nossos caminhos, sabendo que estamos em caminho seguro e levando por caminho certo.

2. Disponibilidade

Esta seria uma atitude de quem se acha aberto e disposto a receber influências e solicitações externas, vindas de outros. É atitude de abertura, sem preconceitos, em gratuidade alegre. Ao mesmo tempo, é atitude de quem quer estar próximo dos outros, dos mais carentes e necessitados, dos precisados, dos esquecidos. No tempo de Padre Dehon eram os operários e  suas famílias e os jovens, os mais precisados de pessoas com disposição para construir e reconstruir a vida.

A expressão usada era “ecce venio”: “eis que venho”. Estou disponível, estou em atitude de abertura, pode dispor de mim, estou disposto(a), quero ajudar, quero agir, quero construir… Em sociedades marcadas fortemente pelo cobrar, pelo receber em troca, pelo exigir, alguém agir dehoniamente quer dizer “quero agir e viver com alegria e gratidão”. Quero construir vidas plenas de sentido, alegre e gratuitamente.

3. Solidariedade

Conforme a senso comum, entende-se por “solidariedade” a atitude de ajudar alguém que sofreu adversidades, está faminto ou sem casa, sentir com alguém que perdeu tudo em consequência de intempéries. É também isto, mas “solidariedade” é algo mais profundo e tipicamente humano-antropológico.

A palavra é originada do latim “solidus, a, um”: firme, maciço, inteiro, pleno. Juridicamente, solidariedade significa “compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas às outras e cada uma delas a todas” (Dicionário Hoauiss).

Antropologicamente, entende-se por “solidariedade” a união firme, inseparável entre a dimensão da individualidade e da socialidade. A individualidade afirma que cada pessoa é absolutamente única, individual, não se repete nem em lugar nem no tempo. A dimensão da socialidade afirma que necessariamente somos relacionados com os outros. E nós nos realizamos como pessoas se relacionados e quando relacionados com outras pessoas. Somos  “sócios uns dos outros”, precisamos uns dos outros. É ilustrativa a imagem de dois cubos de gelo que, encostados um no outro, tornam-se um só cubo. São cubos, solidamente unidos.

A solidariedade fundamenta-se na indissolubilidade e inseparabilidade das duas dimensões: somos indivíduos e, ao mesmo tempo e em todos os lugares, semelhantes e parecidos com os outros. Há sempre algo de mim no outro e algo do outro em mim. Uma sociedade que privilegiasse absolutamente apenas a dimensão da individualidade ou outra que privilegiasse absolutamente apenas a dimensão da socialidade, seria uma sociedade “capenga”, desequilibrada.

Padre Dehon usava a expressão “sint unum”: sejam um, sejam unidade, mantenham a união absoluta das duas dimensões. Disso decorre a vida e vivência em comunidade. Ser solidário significa dar oportunidade para que cada pessoa e todas as pessoas possam satisfazer plenamente suas necessidades básicas, possam realizar suas justas aspirações, possam viver com todos os seus direitos devidamente respeitados, que haja condições de vida digna para todos. A todos nós vem o apelo “sint unum”. Sejam solidários.    

 

 

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